segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O QUE É A FILOSOFIA?






Magníficos alunos, é difícil explicar em poucas palavras o que é esta disciplina nova. É como explicarmos quem somos. É sempre difícil explicarmos quem somos. Acabamos por contar a história da nossa vida, dos nossos pais, quem são os nossos amigos, etc. Com a Filosofia acontece o mesmo. A Filosofia, deste lado do mundo onde vivemos, o mundo ocidental, ficou conhecida justamente por filosofia ocidental e teve origem na Grécia no séc. VII a.c e portanto já tem uma longa idade, cerca de vinte e sete séculos de história.

Uma forma de tentarmos perceber o que é a Filosofia é compreendermos o significado da própria palavra. Embora não seja suficiente, compreender a origem da palavra e o seu significado dá alguma ajuda. A palavra Filo - sofia significa «amor ao saber» e tem origem numa palavra grega, já perceberam porquê… Assim a Filosofia procura investigar o mundo e a vida, formulando determinadas questões ou problemas e produzindo teorias e argumentos para esses problemas.

O que é o bem e o mal? Qual é o sentido da vida? Será que somos livres nas nossas ações? O que é a beleza? O que é a arte? São problemas filosóficos que não encontram resposta nas outras ciências e cabe à Filosofia clarificar e analisar que conceitos estão envolvidos nestes problemas.



Vejam o seguinte texto:

A filosofia é uma atividade: é uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A atividade dos filósofos é, tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os argumentos de outras pessoas ou fazem as duas coisas. Os filósofos também analisam e clarificam conceitos. A palavra «filosofia» é muitas vezes usada num sentido muito mais lato do que este, para referir uma perspetiva geral da vida ou para referir algumas formas de misticismo. Não irei usar a palavra neste sentido lato: o meu objetivo é lançar alguma luz sobre algumas das áreas centrais de discussão da tradição que começou com os gregos antigos e que tem prosperado no século XX, sobretudo na Europa e na América.

Que tipo de coisas discutem os filósofos desta tradição? Muitas vezes, examinam crenças que quase toda a gente aceita acriticamente a maior parte do tempo. Ocupam-se de questões relacionadas com o que podemos chamar vagamente «o sentido da vida»: questões acerca da religião, do bem e do mal, da política, da natureza do mundo exterior, da mente, da ciência, da arte e de muitos outros assuntos. Por exemplo, muitas pessoas vivem as suas vidas sem questionarem as suas crenças fundamentais, tais como a crença de que não se deve matar. Mas por que razão não se deve matar? Que justificação existe para dizer que não se deve matar? Não se deve matar em nenhuma circunstância? E, afinal, que quer dizer a palavra «dever»? Estas são questões filosóficas. Ao examinarmos as nossas crenças, muitas delas revelam fundamentos firmes; mas algumas não. O estudo da filosofia não só nos ajuda a pensar claramente sobre os nossos preconceitos, como ajuda a clarificar de forma precisa aquilo em que acreditamos. Ao longo desse processo desenvolve-se uma capacidade para argumentar de forma coerente sobre um vasto leque de temas — uma capacidade muito útil que pode ser aplicada em muitas áreas.

Desde o tempo de Sócrates que surgiram muitos filósofos importantes. (…) A história da filosofia é, em si mesma, um assunto fascinante e importante; muitos dos textos filosóficos clássicos são também grandes obras de literatura: os diálogos socráticos de Platão, as Meditações, de Descartes, a Investigação sobre o Entendimento Humano, de David Hume e Assim Falava Zaratustra, de Nietzsche, para citar só alguns exemplos

Qualquer estudo sério da filosofia terá de envolver uma mistura de estudos históricos e temáticos, uma vez que se não conhecermos os argumentos e os erros dos filósofos anteriores não podemos ter a esperança de contribuir substancialmente para o avanço da filosofia. Sem algum conhecimento da história, os filósofos nunca progrediriam: continuariam a fazer os mesmos erros, sem saber que já tinham sido feitos. E muitos filósofos desenvolvem as suas próprias teorias ao verem o que está errado no trabalho dos filósofos anteriores. (…)

Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Lisboa: Gradiva, 2007



sábado, 28 de abril de 2012

O INTERESSE FILOSÓFICO DE "BATMAN O CAVALEIRO DAS TREVAS": SERÁ BATMAN UTILITARISTA OU DEONTOLOGISTA? OU NENHUM DELES?














Na parte final do filme “Batman o cavaleiro das trevas” assistimos à ameaça de explosão sobre  Gotham city, protagonizada mais uma vez por Joker, o eterno inimigo de Gotham city e de Batman.

A ameaça leva as autoridades a evacuar todos os habitantes da cidade, mesmo aqueles que estão nas prisões. A partir deste momento o espectador, o próprio Batman, os habitantes de Gotham city e os agentes da lei são colocados perante grandes dilemas éticos. Objetivo?

Desde o início do filme que Joker pretende mostrar que debaixo de certas circunstâncias; chantagem, corrupção, dor, entre outras, as pessoas alteram os seus pontos de vista em relação à vida, nomeadamente aquilo que deve ou não orientar as suas ações e a justificação que encontram para isso- a ética. Portanto não há qualquer razão para acreditarmos em justificações racionais e éticas para o que fazemos. A qualquer momento tudo isso pode desmoronar-se.

Para o Joker, não há qualquer justificação moral para não matarmos alguém, a não ser que isso dê algum prazer, mas o contrário também é verdade. A personagem que ficará conhecida como “two faces” (o procurador, Harvey Dent), representa isso mesmo: a forma como toma decisões em relação à ação que vai realizar consiste em atirar uma moeda ao ar. Mas será tudo uma questão de cara ou coroa?

Para avançarmos só nos resta agora acompanhar o nosso super-herói Batman. Ao longo do filme esperamos encontrar respostas aos dilemas éticos que vão ser colocados. Entre um barco carregado de prisioneiros e um barco carregado de civis qual dos barcos deve ser poupado? Porquê? Qual o critério que devemos seguir?

Por que razão não mata Batman o Joker e previne assim toda a dor que pode vir a abater-se sobre os habitantes de Gotham city? Ou colocando a questão noutros termos: não será uma boa ação matar o Joker uma vez que o facto dele viver tem como consequência a infelicidade e dor para os habitantes de Gotham city?



Para Batman será moralmente aceitável matar alguém? Será aceitável matar para salvar a cidade? Será que Batman não considera aceitável a morte de outra vida humana?

Será Batman utilitarista ou deontologista? Ou nenhum deles?

Se pensarmos no que defendem estas duas teorias filosóficas, o utilitarismo e a deontologia, com certeza que encontramos a resposta. Mas acima de tudo, estas teorias ajudam-nos a compreender de modo mais profundo qual é o sentido de alguém afirmar que leva uma vida boa. Quais são as razões?

Muitas vezes, aquilo que queremos realizar entra em conflito com aquilo que efetivamente podemos fazer. Os nossos desejos esbarram com a realidade e portanto, uma vida boa tem forçosamente de equacionar o interesse dos outros. A ética é justamente a maneira de pensar a melhor forma de integrar os meus interesses e os interesses dos outros.

 Uma justificação que tenha apenas em conta os nossos interesses e felicidade; é uma justificação ética. O problema está em saber, se ao transformarmos essa justificação em teoria – egoísmo ético- essa será uma teoria aceitável e conduzirá a uma vida boa.

Para quem quiser saber mais sobre o filme do Batman e a Filosofia pode ler:






segunda-feira, 9 de abril de 2012

A NECESSIDADE DA ÉTICA: INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS ÉTICAS



INTRODUÇÃO

Magníficos um dos objetivos para a  exploração das  situações aqui apresentadas é o de, a partir delas, refletirmos sobre um conjunto de questões que nos permitam no final, compreender o que é a ética e qual é a sua necessidade.  Assim, após a leitura das situações, analisem as seguintes questões:
Porque consideramos uma ação  correta ou incorreta? Que justificação temos para considerar uma ação moralmente correta ou incorreta? Há algum critério que nos possa ajudar a julgar/avaliar determinada ação? Que critério pode ser esse? Podemos transformá-lo numa teoria? O que defenderia essa teoria? Qual será a importância de estudar essa ou outra teoria? Tudo isto representa uma área importante da Filosofia que dá pelo nome de ÉTICA. Qual é a importância de estudar ética?
Há quem considere que não é necessário pensar em qualquer justificação moral para o que fazemos ou para aquilo que observamos. Dizendo simplesmente que não há qualquer necessidade da moral ou da ética pois no campo dos valores tudo é subjetivo ou relativo.
 Portanto, aceitar esta tese significa defender que tudo tem o mesmo valor e deste ponto de vista, não podemos afirmar que uma ação é melhor que outra. Ou que uma ação tem valor moral e outra não. Aceitar esta tese é ficar com um problema: o que fazemos com as nossas crenças morais? O que fazemos com os nossos princípios éticos?
Haverá um ponto de vista ético das coisas? Em que consiste esse ponto de vista ou como se caracteriza? Será um ponto de vista que tenha apenas em conta os meus interesses? Ou os interesses dos outros e os meus? A ética pretende ser universal? A ética pode ser o ponto de vista de um observador ideal e imparcial? E que temas aborda a ética? Qualquer tema pode ser um problema ético?




Situação 1.

Jorge acabava de saber que a sua grande amiga Joana tinha sido enganada pelo namorado. Ele tinha visto o namorado da Joana com outra rapariga na festa de final do período, festa à qual a Joana não pôde ir. Para o Jorge isto era inaceitável. Iria contar à sua grande amiga o que viu pois não suportava a mentira.

Jorge era um rapaz cheio de princípios. Pelo menos era o que a mãe dele dizia às vizinhas quando falava do seu filho. Considerava o filho como um rapaz de boas intenções. Dava esmola a quem pedia porque considerava que qualquer pessoa naquela circunstância devia sempre ajudar o próximo e não apenas para exibir-se perante os outros.

 Era também um rapaz que levava a sério a palavra de honra. Jorge acreditava que nunca devíamos mentir fosse em que circunstância fosse. Os amigos consideravam-no muito exigente. Dado que tinha já decidido, Jorge contou à Joana o que tinha visto na festa do final do período. Para o Jorge, a amizade significa isso mesmo. Em qualquer circunstância temos o dever, a obrigação de contar aos amigos sempre a verdade. Portanto, para o Jorge não lhe passava pela cabeça omitir o que tinha visto. Contou então à Joana o que viu naquele dia na festa. A Joana ficou muito transtornada, não conseguiu suportar a verdade e acabou por tomar uma caixa de comprimidos. Foi parar ao hospital. Salvou-se mas a família e a própria Joana apanharam um grande susto.

Situação 2.
 A praia estava cheia de pessoas naquele dia. Fazia muito calor e portanto apetecia estar ao pé do mar. Três jovens raparigas de 17 anos estavam no mar a tomar banho. Entretanto, Mário e os amigos tinham acabado de estender as toalhas na areia. Mário adorava «dar nas vistas» era aquilo que se costuma designar por um rapaz “convencido”. Já tinha reparado nas jovens que tomavam banho. Elas tinham-se afastado um pouco demais para uma praia que não tinha nadador salvador.
De repente, uma das raparigas fica em perigo e pede socorro; na tentativa de ajudar as outras duas jovens tentam puxá-la mas acabam também elas por ficar em apuros. «É esta a oportunidade», pensa Mário para com os seus botões. Pode tornar-se um herói e ser reconhecido como o salvador por toda a gente na praia, incluindo as jovens. Mesmo não sabendo nadar muito bem, Mário acaba por lançar-se à água imaginando já a sua chegada- aclamado por toda a gente. Consegue salvá-las num golpe de sorte. Transforma-se num herói em poucos momentos e ainda salva as jovens. Já ganhei o dia pensa o Mário.
 
 





QUESTÕES PARA EXPLORAR AO LONGO DAS AULAS:

  1. Que problema filosófico está em causa nas duas situações apresentadas? Formula o problema de forma clara procurando explicar o que está em causa nas duas situações.
  2. Formula alguns problemas éticos?
  3. Relativamente à questão 1 que respostas dão ao problema as teorias que surgem mais abaixo.
 



I.          O UTILITARISMO DE STUART MILL ( clica em cima do nome)
 
Texto 1
 
A doutrina que aceita como fundamento da moral a utilidade, ou o princípio da maior felicidade, defende que as acções são correctas na medida em que tendem a promover a felicidade [bem estar], e incorrectas na medida em que tendem a gerar o contrário da felicidade. Por felicidade entendemos o prazer, e a ausência de dor; por infelicidade, a dor, e a privação de prazer. Para dar uma perspectiva clara do padrão moral estabelecido pela teoria é preciso dizer muito mais; em particular, que coisas se inclui nas ideias de dor e prazer; e até que ponto isto é deixado como questão em aberto. Mas estas explicações suplementares não afectam a teoria da vida na qual esta teoria da moralidade se baseia nomeadamente, que o prazer, e a ausência de dor são as únicas coisas desejáveis como fins; e que todas as coisas desejáveis (…) são desejáveis ou pelo prazer inerente a si mesmas ou como meios para promoção do prazer e a prevenção da dor.
John Stuart Mill (2005)  Utilitarismo. Trad.. Pedro Galvão. Porto Editora, p. 50-54
Texto 2
A felicidade que constitui o padrão utilitarista do que está correcto na conduta não é a própria felicidade do agente, mas a de todos os envolvidos. O utilitarismo exige que o agente seja tão estritamente imparcial entre a sua própria felicidade e a dos outros como um espectador desinteressado e benevolente.
(…) O motivo nada tem a ver com a moralidade da acção, embora tenha muito a ver com o valor do agente. Quem salva um semelhante de se afogar faz o que está moralmente correcto, quer o seu motivo seja o dever, ou a esperança de ser pago pelo seu incómodo; quem trai a confiança de um amigo, é culpado de um crime, ainda que o seu objectivo seja servir outro amigo para com o qual tem deveres ainda maiores.
John Stuart Mill (2005) Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Porto Editora, p. 67-68
 
II.            A DEONTOLOGIA DE I. KANT (clica em cima do nome)
 
Texto 1
(…) o valor moral da ação não reside, portanto, no efeito [consequência] que dela se espera. Por conseguinte, nada senão a representação da lei [moral] em si mesma, (…) enquanto é ela, e não o esperado efeito, que determina a vontade, pode constituir o bem excelente a que chamamos moral (…) Não pode residir em mais parte alguma senão no princípio da vontade [na intenção], abstraindo dos fins que possam ser realizados por tal vontade”.
Mas que lei pode ser então essa, (…) mesmo sem tomar em consideração o efeito que dela se espera, tem de determinar a vontade para que esta se possa chamar boa absolutamente e sem restrição? (…) devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal.
Kant, Fundamentação da metafísica dos costumes, Edições 70, p. 31-33
 
Texto 2.
Cada ação pode ser descrita como uma ação de um certo tipo. Se ajudas alguém, podes conceber o que fazes como um ato de caridade. Neste caso, ages segundo a máxima de que deves ajudar os outros. Mas tens outras alternativas: quando forneces a ajuda talvez estejas a pensar que essa é uma maneira de fazer o beneficiário sentir-se em dívida para contigo. Neste caso, a máxima da tua ação pode ser a de que deves fazer que os outros se sintam em dívida para contigo. Para saberes que valor moral tem a tua ação, vê que máxima te levou a fazer o que fizeste.
Não é difícil perceber por que razão precisamos de considerar os motivos do agente e não as consequências da ação. Kant descreve o caso de um comerciante que nunca engana os seus clientes. A razão é que ele receia que, se os enganasse, os seus clientes deixariam de comprar na sua loja. Kant diz que o comerciante faz o que está certo, embora não pela razão certa. Ele age de acordo com a moralidade, mas não devido à moralidade. Para descobrir o valor moral de uma ação, temos de ver por que razão o agente a realiza, o que as consequências não revelam.
Se o comerciante age aplicando a máxima "Sê sempre honesto", a sua acção tem valor moral. Todavia, se a sua ação é o resultado da máxima "Não enganes as pessoas se é provável que isso te cause prejuízos financeiros", ela é meramente prudencial, e não moral. O valor moral depende dos motivos e os motivos são dados pela máxima que o agente aplica ao decidir o que fazer.
Tradução de Faustino Vaz
Retirado do livro Core Questions in Philosophy, de Elliott Sober (Prentice Hall, 2008)


sexta-feira, 16 de março de 2012

O GRANDE PROBLEMA FILOSÓFICO DA AULA DE HOJE...













A questão era: Defina a teoria presente no texto.





- Ai é? Responda... como é que o «stor» aprendeu a fazer definições?

- Eu queria aprender.



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

FILOSOFIA E DIA DOS NAMORADOS?




É preciso acumular um tesouro. E depois guardá-lo bem.
Para os meus magníficos alunos que já têm grandes tesouros.






Os homens têm, para todas [as situações], soluções fáceis e convencionais, as mais fáceis das soluções fáceis. Contudo, é evidente que se deve preferir sempre o difícil: tudo o que lá vive lá cabe. (…)
Sabemos muito poucas coisas, mas a certeza de que devemos sempre o difícil não nos deve nunca abandonar. É bom estar só, porque a solidão é difícil. Se uma coisa é difícil, razão mais forte para a desejar. Amar também é bom porque o amor é difícil. O amor de um ser humano por outro é talvez a experiência mais difícil para cada um de nós, o mais alto testemunho de nós próprios, a obra suprema em face da qual todas as outras são apenas preparações.
É por isso que os seres muito novos, novos em tudo, não sabem amar e precisam de aprender. Com todas as forças do seu ser, concentradas no coração que bate ansioso e solitário, aprendam a amar. Toda a aprendizagem é um  tempo de clausura. Assim, para o que ama, durante muito tempo e até ao largo da vida, o amor é apenas solidão, solidão cada vez mais intensa e mais profunda.
 O amor não consiste nisto de um ser se entregar, se unir a um outro logo que se dá o encontro. (Que seria a união de dois seres ainda imprecisos, inacabados, dependentes?). O amor é a ocasião única de amadurecer, de tomar forma, de nos tornarmos um mundo para o ser amado. É uma alta exigência, uma ambição sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais vastos horizontes.
 Quando o amor surge, os novos apenas deveriam ver nele o dever de se trabalhar a si próprios. A faculdade de nos perdermos noutro ser, de nos darmos a outro ser, todas as formas de união, ainda não são para eles. Primeiro, é preciso amealhar muito tempo, acumular um tesouro.
(…)
Um tal progresso transformará a vida amorosa. (…) Mais perto do humano, [o amor] será infinitamente delicado e cheio de atenções, bom e claro em tudo o que fizer ou desfizer. Este será o amor que, lutando duramente, agora preparamos: duas solidões que se protegem, se completam, se limitam e se inclinam uma para a outra.
Rainer Maria Rilke, Cartas a um Jovem Poeta

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

FICHA FORMATIVA DETERMINISMO E AÇÃO HUMANA


Magníficos vejam com atenção estas questões. Verifiquem antes de tentar responder se compreendem bem o que se pretende em cada questão. Lembrem-se que é importante que saibam adequar a vossa resposta aos objetivos da pergunta.
Antes de colocar alguma dúvida ou fazer algum comentário vejam se isso não foi feito já por algum outro colega. Se não for esse o caso, no vosso comentário indiquem o número da pergunta e identifiquem-se com o nome, nº e turma.
Algumas destas questões foram feitas pela professora Josefa Soares à qual agradeço a partilha.
Em algumas das perguntas fiz alguns comentários sempre que considerei necessário.

Uma ação não é um acontecimento como um tremor de terra ou a queda de uma folha morta.
  1. Concorda com a afirmação anterior? Justifique a resposta.

O fenómeno fundamental da (…) experiência humana é que já de antemão nos achamos no meio de uma realidade, rodeados por coisas e seres humanos, com os quais lidamos, que nos influenciam e com quem mantemos relações múltiplas. A nossa existência está na dependência do mundo, tanto do mundo das coisas e dos objectos como também e, sobretudo, do mundo humano e pessoal. A nossa existência concreta está assim condicionada e determinada de múltiplas formas.
                           E. Coreth
  1. Identifique a partir do texto, quais são os fatores que condicionam a ação humana.



Fazemos escolhas e pomo‐las em prática; louvamo‐nos e culpamo‐nos uns aos outros pelos nossos actos e omissões; deliberamos sobre o futuro e decidimo‐nos. Como os animais, temos desejos; mas, ao contrário dos animais, também fazemos escolhas – podemos escolher fazer o que não queremos fazer, e querer fazer o que não escolhemos. Todos estes factos parecem implicar que somos livres para fazer mais do que uma coisa, e que aquilo que realmente fazemos é escolha nossa, e responsabilidade nossa. À primeira vista, a crença na liberdade parece estar em conflito com o determinismo […].
SCRUTON, Roger (2007). Guia de filosofia para pessoas inteligentes. Lisboa: Guerra & Paz, p. 119.
  1. Explica por palavras tuas o sentido da frase a negrito.
  2. Qual te parece ser a posição do autor em relação ao problema do livre arbítrio? Justifica.

 Considere o texto seguinte:
O Abílio vai hoje ao Rock in Rio ver o concerto dos  «Metalica». Está com muitas expectativas, porque já ouviu todos os discos da banda. Mas aconteceu um imprevisto: começou a chover torrencialmente e ele teve de se abrigar debaixo de uma árvore. Como se tal não bastasse, caiu um relâmpago na árvore em que se abrigara. Felizmente para ele, isso aconteceu já depois dele ter saído de lá. O Abílio ficou tão assustado que já não foi ao concerto.”
Retire do texto um exemplo de:
  1. Acontecimento
  2. Ação
  3. Intenção

  1. Tudo quanto realizamos é parte da nossa conduta, mas nem tudo o que realizamos constitui uma acção. Concorda? Porquê?




(As questões seguintes a propósito do texto do manual são importantes. Quando verificarem o autor do texto e as ideias que ele desenvolve vão perceber porquê.)
A partir do manual de Filosofia responde às seguintes questões:
Texto 2 pág. 79 e 80
  1. De acordo com o autor do texto, qual é a experiência que nos fornece a convicção da liberdade?
  2. Refere por ordem as ideias fundamentais presentes no texto.

Perguntas do Teste Intermédio Filosofia realizado em 2010-2011 (disponível em http://www.gave.min-edu.pt/np3/9.html)
Aquilo que decidimos fazer é uma acção que está ao nosso alcance, sobre a qual deliberámos e que desejamos fazer. Portanto, a decisão será um desejo deliberativo de fazer algo que está ao nosso alcance; pois, quando o deliberar resulta num juízo, desejamos em conformidade com a nossa deliberação.
Aristóteles, Ética a Nicómaco, 1113a 9 - 12
11.  Na resposta a cada um dos itens 1.1. e 1.2., selecione a opção que permite obter a única afirmação adequada ao sentido do Texto de Aristóteles.


1.1. A deliberação é:
(A) eliminação do desejo.
(B) contrária ao desejo.
(C) necessária à decisão.
(D) consequência da decisão.



1.2. A decisão é uma escolha
(A) fora do domínio da ação.
(B) independente da deliberação.
(C) sempre precipitada.
(D) sobre o que está ao nosso alcance.

Quem não haja programado a sua vida tendo em vista um determinado objectivo, é impossível que regule convenientemente as suas acções particulares […]. Os nossos projectos extraviam-se porque não têm direcção nem ponto de mira.
Montaigne, Ensaios, Lisboa, Relógio d’Água, 1998, p. 165

  1. Explicite o conceito relativo à ação humana presente no texto de Montaigne.

Por um lado, um conjunto de argumentos muito poderosos força-nos à conclusão de que a vontade livre não existe no Universo. Por outro, uma série de argumentos poderosos baseados em factos da nossa própria experiência inclina-nos para a conclusão de que deve haver alguma liberdade da vontade, porque […] todos a experimentamos em todo o tempo.
John Searle, Mente, Cérebro e Ciência, Lisboa, Edições 70, 2000, p. 108

13.  Identifique o problema filosófico abordado no Texto C.
14.  Exponha uma crítica à teoria do determinismo radical, a partir do argumento presente no Texto.